A última cartada de Lewis Hamilton

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O canal de TV aberta do Brasil que transmite a Fórmula 1 está desesperado. Não há mais pilotos brasileiros que outrora colaboraram com o despertar da paixão do povo que amava apenas o futebol. Um Felipe se aposenta, o outro ainda não tem contrato e o irritante narrador, que convenhamos marcou época com o ídolo falecido, busca de maneira obstinada os subterfúgios suficientes para manter a audiência em um patamar aceitável. Um dos argumentos é o de que no ano que vem as regras irão mudar, haverá mais equilíbrio entre os carros e uma maior competitividade. A outra ressalva é pontual, momentânea e está diretamente relacionada com as imagens que passam durante o GP de Abu Dhabi. Um carro atrás do outro, algumas ultrapassagens, possibilidades e claro, a pura emoção. É o que queremos realmente ver, mas era apenas a última cartada de Lewis Hamilton.

O inglês tricampeão do mundo já está sendo acusado de ter sido desleal. O piloto de 31 anos já está sendo ameaçado por uma punição da sua própria equipe Mercedes. Muitos poderiam chamá-lo de Pinóquio, afinal antes da corrida ele declarou que não iria fazer o que acabou fazendo. Pelo rádio ele é orientado a andar mais rápido porque Sebastian Vettel (que estava em quinto e chegou em terceiro) se aproximava. Como se a equipe não soubesse o que estava acontecendo, ou melhor, sabendo que todas as conversas são gravadas e nada mais explicito poderia ser falado, ouvimos também que se ele não consegue andar mais rápido então que dê passagem ao seu "companheiro" de equipe. A resposta para essa ou aquela pode ser considerada como frase do ano - "Estou ganhando a corrida e perdendo o campeonato", disse Lewis Hamilton, que estava dando a sua última cartada.

Não lhe tirem o direito de tentar pelo menos, mesmo que seja uma tentativa polêmica. Se fosse o jovem afoito Max Verstappen, que no Brasil poderia já ter ajudado se terminasse a prova em segundo lugar, as chances de Hamilton ver o que pretendia talvez fossem maiores. O problema é que Vettel, tetra campeão do mundo, não iria forçar a barra e estragar a festa de Nico Rosberg. Mas valeu pela tentativa, valeu pela expectativa criada principalmente aos torcedores de Hamilton, valeu pela dignidade de Hamilton, que se fizesse uma prova normal abrindo vantagem e vendo Rosberg passeando na segunda posição seria como simplesmente entregar de mão beijada o título de campeão de mundo. Valeu para a tal TV aberta brasileira do tal narrador irritante reforçarem seu apelo para que todos voltem no ano que vem, na esperança de que não haja mais uma vez a superioridade de apenas uma equipe como vem acontecendo nos últimos seis ou sete anos.

A maioria dos pilotos atuais, se estivesse no cockpit da Mercedes, terminaria com o título ou vice-campeonato. Hamilton fez isso nos dois últimos anos. O mesmo fez Vettel nos anos anteriores, quando a Red Bull dominava completamente. Se apenas uma equipe domina, a briga fica restrita à apenas dois pilotos. Nos dois últimos anos Nico Rosberg esteve apático, mas esse ano ele finalmente reagiu e venceu as quatro primeiras corridas do ano. No final terminou com apenas cinco pontos de vantagem para Hamilton, sendo que a grande diferença foi o GP da Malásia, onde Hamilton viu o motor quebrar quando era líder da corrida. Rosberg não teve seu motor quebrado e só abandonou uma vez quando se envolveu em uma acidente com o próprio Hamilton. No final o inglês cumprimentou o alemão quando ambos ainda estavam de capacete, no pódio o aplaudiu quando ele recebeu a taça de segundo colocado. É uma rivalidade saudável, como era Senna e Prost, faz até bem para a Fórmula 1. O que não faz bem é bem é julgar alguém por tentar um último respiro ou uma última cartada, pois era só isso que Hamilton estava tentando fazer.

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